...Nessa vida tudo passa, e você também passou.
Pegou a bicicleta e foi atrás dela. Precisava loucamente encontrá-la, não só pelo desejo de vê-la, mas principalmente pela notícia que carregava consigo. Corria pelas ruas, com a ventania quase o derrubando. Ela já havia saído da escola, e o esperava encostada no muro dos fundos, como fazia todos os dias. Chegou ofegante, lhe deu um beijo rápido e se pôs a falar:
– Consegui. Consegui!
– Vai ser quando? – ela foi direto ao ponto.
– Hoje à noite.
Ela era filha do presidente do país X. Prometida a outro rapaz. Ele era só mais um estudante cheio de ideais contra o governo. Um amor proibido, eu diria. Mas não era bem um amor. Talvez, naquele lugar, isso não existisse.
A idéia era muito simples, mas a prática nem tanto. Foi tudo cuidadosamente planejado, e naquele fim de noite ela sabia que o pai e o noivo estariam juntos na sala de reunião. Seriam dois tiros, e tudo estaria resolvido.
Só dois tiros.
– Falta só um pouco – ele disse, no corredor.
– Um pouco... – ela parecia não prestar atenção no que ele estava dizendo.
Andaram mais um pouco, e ficaram próximos à porta.
– Vou entrar, me dá um beijo? – e ela o deu.
Ele abriu a porta, as mãos tremendo apontando a arma para as duas poltronas ocupadas.
– Você nunca mais fará o meu povo sofrer – disse, apontando para o presidente. – E você, nunca mais sentirá nem o perfume dos cabelos dela.
Engatilhou.
– NÃO!
Um grito. Um tiro. Um único tiro.
Alguns segundos.
– Porque...? Estava... tudo... dando certo...
– Nessa vida tudo passa, e você também passou.
Darshany.
E lanço a seguinte batata: quero a história de uma garota conhecida, mas com um nome diferente.