segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Esotérico

Batata da Bia: *um amor impossível que deu certo, porque tinha que dar certo, e porque todas as teorias de que ia dar errado tinham que falhar. Com trilha - oh, crueldade - de Coldplay.*






Esotérico

Quando começaram a escrever essa história sabiam que não ia dar em nada. Julieta nem gostava tanto assim de Romeu. Mas ela tinha esse carma chato. Essa coisa quente na garganta que faz com que tudo vire verso. Então ela continuou na dança tentando sentir aquela coisa quente na garganta.
Conheceram-se tarde da noite, numa roda de viola. Coisa besta besta de samba. Cantavam alto olhando estrelas. Ouvindo estrelas.
"Ora direis, ouvir estrelas?", Julieta tentava mesmo ser racional.
"Só quem ama é capaz, Julieta." ele respondia quebrando barreiras e mostrando quanto podia haver romantismo.
Mas a Julieta sabia que o buraco era mais em baixo e que aquele Romeu, se fosse seu, seria pela metade. E ele insistia na mesma noite que aquelas estrelas brilhavam pra ela enquanto cantavam na roda que as rosas não falam.
Julieta apaixonante. Mil coisas na cabeça. Quase uma bomba. Julieta explodia pelos cantos e Romeu ficava embassado.

Look at the stars,
Look how they shine for you,
And everything you do,
Yeah, they were all yellow




Julieta queria nada. Queria apenas ser a única coisa palpitante naquele coração. Tentava gritar que coração não serve de nada. Mas mesmo calejada e cansada de tanta paixão, mantinha a maldita bola na garganta. E Romeu insistia. Talvez achasse que um amor qualquer dissolvesse tudo. Mesmo que em sigilo.
Então mantiveram-se sigilosos e sem qualquer toque. Conversavam apenas. Ouviam estrelas e não dormiam. Se auto-enganavam de que aquela coisa toda crescente ia dar certo.
E a bola na garganta só crescia.
Romeu tentou escrever poemas.
Julieta riu-se inteira. Nem era possível alguém tão sem talento conseguir qualquer rima boa.

I came along,
I wrote a song for you,
And all the things you do,
And it was called Yellow
So then I took my turn,
Oh what a thing to have done,
And it was all Yellow

Jamais se tocavam e evitavam se cruzar na rua. Julieta dizia a Romeu que não poderia aguentar qualquer troca de olhar. A verdade era que não aguentaria olhar sem toque. Mas Romeu insistia.
Então se olharam próximos e penetrantes. Um mundo inteiro cabendo naquele espaço sem beijo que se mantinha.
E Romeu dizia que Julieta era toda linda. Romeu gostava de cada sorriso e ia se metendo na situação sem volta. Ela então avisava que envolvimento era coisa perigosa e acendia um alerta. Soava todos os alarmes. Gritava com ele.
Depois agradecia por tudo se manter em olhares e horários certos. Sabia que não poderia conter-se se houvesse qualquer coisa de cheiro.

Your skin
Oh yeah, your skin and bones,
Turn into something beautiful,
Do you know?
You know I love you so,
You know I love you so

Romeu e Julieta então se viam volta e meia - por vontade própria. E mesmo sabendo da condição de não envolvimento, continuavam se vendo e inclusive se tocando. Se tocavam com a boca mesmo. Com os dedos. Mordiam pontas de orelhas. Se machucavam forte, mas se mantinham sólidos.
Se ele tinha outra pessoa, Julieta mesmo não ia cair nem nada. Avisou que já tinha se metido em outras situações e se lembrava de tudo a cada toque de Romeu. Ia ficando com vontade de proximidade máxima. Queria até que ele a ninasse vez ou outra.
Mas Romeu insistia.
Então houve beijo.

I swam across,
I jumped across for you,
Oh what a thing to do
'Cos you were all yellow,

Julieta então precisava mais e mais de contato. Precisava muito de língua. Cada dia que passava, ela queria carne. E Romeu se dividia sem saber multiplicar. A bola de fogo continuava crescendo.
Estabeleceram um trato dos dias em que não poderiam se ligar.
E Julieta ficou se danando, queimando a pele, sentindo falta. Foi ficando inteira buraco e fogo.
Mas ele continuava insistindo e continuava encantado.
E ela disse não.

I drew a line,
I drew a line for you,
Oh what a thing to do,
And it was all yellow


A falta mesmo, Julieta não queria. Nem três horas ela pode se aguentar sem Romeu. Ligou e disse que queria tudo. E ele mesmo nunca disse não.
Romeu era desses que acreditava ser imoral dizer não a uma mulher. Então ele acumulava Julieta e outra, munido só de paixão.
Tentaram laços de amizade, inclusive. Mas a pele não deixava.
Então olharam estrelas por mais alguns dias. Se mantiveram juntos e conversaram sobre o mundo todo.
Foram ficando encantados. Encantados com tudo. Ele dizia que não adiantava nada ela o abandonar, por que mistério sempre há de pintar por aí.
Até que nem tanto esotérico assim.
Romeu não largou nada.
Julieta pisou no orgulho.
Assim é que se faz final feliz.

Minha Batata: Uma comédia romântica padrão: Mulher controladora, neurótica, mais interessante do que a maioria e bastante brava. Um homem pior ainda. Tudo dando certo no final.

7 comentários:

Pobre esponja disse...

Legal esse paralelo que traçou entre texto e música, não só nesse post como em outros. "Meu erro" é o som!

abç
Pobre Esponja

Diego Janjão disse...

Cold Play realmente eh muito bom!

Tava lendo agora uma reportagm sobre o Parl Jam, outra q eh foda!!

bia de barros disse...

"A verdade era que não aguentaria olhar sem toque. Mas Romeu insistia.
Então se olharam próximos e penetrantes. Um mundo inteiro cabendo naquele espaço sem beijo que se mantinha."

Tocante. Porque se eu disser que chorei você nem acredita.

Gracias, prima. Muchas gracias.

besos ;***

Lari Bernardi disse...

OMFG!
Perfeitoooo, e a música então... ameii...

Ah, quando li a primeira linha sabia que o texto era da Aline... ahuahauahuahauha

Lari Bohnenberger disse...

Lindo texto!
Emocionante.
Bjs!

Darshany L. disse...

gostei dos trechos da musica entre os paragrafos, do ritmo, da historia, do final.
andam faltando finais assim.

e o que é essa musica?
choro.
sempre.

Janaína disse...
Este comentário foi removido pelo autor.