segunda-feira, 23 de junho de 2008

Verdade

Batata da Bia!
História de alguém que conversa com o senhor do seu futuro e tem de escolher apenas uma coisa para nele mudar quando ele chegar.

- Não, Ana, Eu não quero mais botar poemas no papel. Essas coisas me travam, menina. - Ele falava com as mãos passando por entre os fios dos cabelos dela. E ela não sabia de onde ele tinha vindo. Tinha medo e desejo ao mesmo tempo. Sabia que ele era mais novo, bonito com seu sorriso inocente, nervoso e sexy.
A verdade é que já conviviam de outros tempos. Ela não sabia de onde, mas o conhecia botando poemas no papel e falando que tudo foi verdade por um instante. Naquele dia, ele tinha ficado mais bonito e sua voz parecia mais libido. Não queria que ele deixasse os poemas fora do papel ao mesmo tempo em que queria ouvir todos os poemas e que todos fossem para ela. Se ajeitou entre as pernas dele sentindo os músculos das suas coxas com as mãos espalmadas e atentas. Queria talvez lamber as coxas e beijar-lhe o pescoço, mas nem ao menos sabia quem ele era e de onde tinha vindo - além dos sonhos.
- Não, Ana, eu não quero mais nem que os poemas sejam postos. Estou cansado das coisas que eu escrevo. De ter que levar tudo absolutamente à sério.
- Então não leve, oras. Não precisa.
- Lembra de onde me conhece?
- Dos olhos?
- Não. Eles são assim exatamente para que você se sinta confortável, mas eu não devia me sentir confortável. - E ela mexia nas pernas dele sem pensar, mas pensando que não sabia nada sobre ele.
- Eu gosto que você se sinta.
- Eu sei. É disso que eu tenho medo.
- Das minhas mãos?
- Dos seus olhos e do seu cheiro.
- Por que?
- É isso que me atrai em mulheres que não deviam me atrair.
- Por que você está aqui.
- Pra te contar do futuro.
- Eu não quero saber.
- Eu também sei, Ana. Mas você pode mudar.
- Mudar o que? Ainda não veio.
- Eu é que devia não ter vindo.
- Quem é você?
- O Senhor do seu futuro. Homem que não existe e é responsável por você. Escritor dos seus poemas.
- Não gosto de poemas.
- Mas gosta de poesia.
- Não.
- Sabe a diferença, Ana?
- Tamanho?
- Poesia é sentimento. Se você não fosse cheia dela eu não estaria aqui, não teria sentido seu cheiro nem teria olhado nos seus olhos.
- E como é que você pode ser senhor do meu futuro sem nem saber meus olhos? - e nesse momento ela já não estava deitada, tentava não se ligar em cheiros e não apalpava nada dele com as mãos.
- Eu sabia antes.
- E agora?
- Ana, eu não quero mais botar poemas no papel.
- O que você quer?
- Te contar que você vai casar com um homem não muito bonito, mas de quem você gostará sem tanto desejo e com muita calma. Contar que você vai gostar de estar casada e de ter filhos loiros. Contar que você nunca vai pular a cerca mesmo muitas vezes querendo. E que você vai sempre dar um jeito de ser feliz sendo você com três profissões.
- O nome dele?
- Do marido?
- É.
- Jorge.
- Não conheço nenhum.
- Mas vai conhecer. E isso de hoje vai ser só um sonho que você não vai levar à sério e vai se esquecer. E eu nunca mais vou existir.
- E o que você quer?
- Nada. Dizer que você pode mudar uma coisa. Só uma dessas todas. E essa uma em si vai mudar as outras. E você pode não mudar nada. Mas é só hoje que você pode.
- Eu quero pensar.
- Tem a noite toda.
- Por que eu?
- Pelos olhos.
- E você existe?
- Sim, mas não posso aparecer pra ninguém nem pra você. As coxas que você apalpa não deviam ser apalpadas, nem físicas. Eu não sei lidar com ter um corpo. Eu nem sei sorrir ou sentir cheiro.
- A mim parece que sabe.
- É que cheiros me deixam tonto e salivando, querendo que o cheiro se materialize e talvez botar tudo na boca. Eu queria botar você na boca, mas eu não posso.
- Pode.
- Quem disse?
- É meu corpo, sobre ele sou eu quem digo.
- O contato não devia ser feito.
- Já foi. - E ela se aproximava dele, pegando nas suas mãos e cheirando-as em silêncio enquanto ele fazia a mesma coisa. Lambiam os dedos um do outro e depois os ombros e pescoço. Ficavam nus e ele não sabia mais o que nem como fazer. Tinha visto tudo muitas vezes e sabia bem como funcionava, o que devia fazer e o que queria fazer. Acontece que a prática é diferente do sempre observado e ele teve medo de tudo que queria com ela. Quis parar.
- O que foi.
- Ana, você precisa decidir o que quer mudar no seu futuro.
- Não quero que você seja senhor dele, mas gente.
- Isso eu não sei se posso mudar.
- Eu quero saber amanhã que tudo foi verdade.



Minha Batata:
Eu quero a história de envolvimento entre duas pessoas que não se gostam, nem gostariam de estar se envolvendo.
E trilha sonora do Caetano!

domingo, 15 de junho de 2008

Ela não quer ser santa.

Batata da Darsh: história de uma garota conhecida, mas com um nome diferente..
.
Indignou-lhe a negativa que recebeu como resposta aquele dia. Não podia entender: devia haver um engano. Sempre lhe disseram que há uma espécie de magia que envolve de mistério às virgens qual incenso do Olimpo, mas aquilo era demais. Maria Clara* era presidente da Comissão de Formatura do 3ºA, ora bolas: tudo que queria era uma réles coluna no boletim escolar mais popular da cidade _ porém, ao que parece, fora reprovada com louros de gargalhadas no Teste de Pré-Seleção mais cobiçado do Colégio.
Tudo porque ela carregava consigo esse bendito sinal, 'que não lhe permitiria atingir o âmago da coisa que mais rendia matéria pro jornal', conforme Vicky gentilmente lhe explicou.
Parecia até sina: quanto mais tentava disfarçar, mais percebiam. Quanto mais falava sobre sexo, com toda a desenvoltura fingida que conseguia, mais lhe lançavam aquele olhar de extrema compaixão que tanto detestava. Preferia a excomunhão.
Certa vez, até aprendera a usar e abusar do vocabulário de mais baixo calão que se teve notícia no Elite School em três gerações, a partir de um dicionário secreto que todos conheciam, mas cujas chaves apenas Os Editores possuíam (ela o surrupiou uma noite, quase foi pega, mas nada, nada adiantou: foi descoberta e ainda por cima, ao invés de receber um mero castigo, porém ser aceita no Grupo, não... Tinha de receber aquele 'não' e seguir satisfeitíssima sua casta vida). Tudo em vão.
Agora estava ali, em um semi-leito, a caminho da sua 'terrinha' nas serras capixabas e nada, no mundo, lhe faria mais bem do que um tenro abraço da sua mãe ao chegar em casa. Quiçá chorasse no ombro da irmã, não tão mais nova que ela assim, e com tão menores sofrimentos que os dela... O mundo não sabia o que era sofrer até ser rechaçado daquele jeito, ela queria ver alguém de fibra superar o que ela passava ali, tão longe de todos que a amavam...
Ela só não queria mais ser 'santa', mas não daria sua primeira vez de bandeja, pra qualquer um. Se houvesse um jeito, não seria mais ela mesma, nunca mais...
Abriu o caderno onde rabiscava todas as matérias que escreveria quando a recebessem n'O Jornal do Elite, e ao folhear algumas páginas (com cuidado para não as aproximar em demasia de seu rosto, para não as umedecer), parou para ler uma crônica aleatória, perdida, a qual ela sabia, jamais iria para um boletim daquele nível: era adulta demais. Sim, senhores: madura demais até para ela própria ao reler o que escrevera_ caso seu secretíssimo, sobre um platonismo antigo...
Não se reconheceu ali. Aquelas linhas não eram bobas, nem santinhas. Sorriu na mesma hora em que uma estrela brilhante surgiu em sua mente: jornalista que nada... "Mamãe, quando crescer quero ser escritora".
FIM
by bia de barros.
A próxima batata: quero a história de alguém que conversa com o senhor do seu futuro e tem de escolher apenas uma coisa para nele mudar qndo ele chegar.

Com vocês...

... mais uma colaboradora pro Batata Quente!





Bia de Barros chegou para não deixar esse blog morrer. Ela é sardentinha, fofinha, um amor. E escreve como adulta no seu blog criança.








E já já tem texto da Bia por aqui, pois ela escreverá a batata que eu passei há mais de um mês.