domingo, 12 de outubro de 2008

O Bruxo

Batata da Flora: Uma história sobre as últimas horas de Machado de Assis (é para inventar mesmo).



O padre saiu, mas não sem dar a benção e recusar-se a dar a extrema-unção. Joaquim insistiu. Fez com que o padre voltasse. Ele sabia que cedo ou tarde iria embora desta vida sem poder publicar qualquer livro que viesse do além.
Não queria dedicar mais nada a verme nenhum. Nem queria ser comido por qualquer bicho. Mas o padre tinha que voltar e dar a unção para que Joaquim pudesse ir embora sem culpa por tantos verbos.
Quando o padre foi embora, Joaquim Maria Machado de Assis pediu que lhe deixassem sozinho no quarto. Fecharam a porta e as janelas e ele se cobriu. Respirou fundo. Sabia que ela chegaria a qualquer momento.
E ela estava ali. Cabelos mui pretos e longos, boca vermelha e pele louçã.
- Estava te esperando.
- Duvido muito, Machado.
- Estava te esperando.
- Certo. Com tanta convicção vou começar a achar que você é uma espécie de bruxo.
- Não sei. Mas tenho um último pedido antes de ir embora com você.
- O que quer?
- Xadrez.
- Competir comigo?
- Costumava ser bom.
- Eu li sua ficha. Bom em xadrez e prosa. Talvez você ainda tivesse muito a produzir.
- Se eu ganhar...
- Não vai ganhar de mim. Se sim, pode ficar mais tempo.
- Não sei se quero.
- O seu tabuleiro, onde está?
- Na estante, junto com alguns livros. Pode pegar?
- Claro. Não quero que você se esforce muito.
E os dois entraram num jogo apertado. Ela, traiçoeira e ele planejando cada nuance. Não foi fácil para ela e por um momento pensou que perderia uma das encomendas mais preciosas do além.
Mas por alguma dor que ele sentiu, desconcentrou-se e foi traído pelo próprio dom.
Xeque mate.

Minha Batata: Uma mulher jovem, bonita, engraçada e inteligente que se envolve com um cara mais velho que ela por conta de um jogo de sedução que começou como brincadeira.
E uma trilha sonora de caetano ou cazuza.
(lalalalalala)