Sugestão da Flora: escrever a minha própria batata e lançar uma nova, "mais fácil"... E lá vai :pAshira nasce em Nazaré num dia agradável de setembro de 1990, tendo sido no mesmo instante abençoada por Abba e Miriam, seus pais, em nome de Jeová. Quando a moça completou quinze anos, foi-lhe ofertada a escolha do marido - por ela negada com delicadeza, pois ainda não descobrira o verdadeiro amor em sua vida.
A família era judaica de esquerda, e portanto não lhe casou espanto a decisão da filha, acolhida com muito carinho no seio de sua comunidade mesmo assim. Espantados ficaram com a notícia divulgada pela imprensa meses depois:
JERUSALÉM, 14 Mai 2006 (AFP) - A Suprema Corte de Israel ratificou neste domingo uma lei destinada a impedir que palestinos casados com cidadãos árabes israelenses morem em Israel, alegando que constituem uma ameaça potencial para a segurança do país.
Tudo ainda estava muito confuso, ninguém sabia ao certo o que deveria ser feito. Pareciam esperar por mais notícias. Abba telefonou a seus pais e avós na cidade palestina de Belém, para acalmá-los, dizendo que ele e sua família ficariam bem.
Acontece que os ancestrais de Abba, assim como ele próprio, eram árabes da região Palestina. Ao casar-se com uma moça judaica, adotou para os filhos a religião matriarcal da esposa, e foi viver feliz em Israel. Apesar dos temores compreensíveis de seus pais, disse-lhes que os israelenses não haviam de temer um médico tão respeitável. Tal se passara em fins da década de 1980, e a vida feliz que planejara agora sofria sérias ameaças em virtude da Lei que acabara de ser aprovada em Israel.
A mudança teve de ser feita às pressas, afinal. Pela determinação do Governo israelense, Abba deveria ir-se com toda a sua família - esposa e filha única - de volta à Palestina, o mais rápido possível. Ficaram instalados em casa de um primo de segundo grau de Abba, pois seus pais já doentes não tinham condições de lhe oferecer asilo. O homem temia pela filha e pela esposa, que agora eram minoria naquela terra cuja palavra de ordem era "Intifada". Mesmo assim, aceitou o abrigo do parente distante, e ali moraram por um tempo, até que Abba conseguisse voltar ao trabalho e se pusesse à procura de uma casa decente.
Somente no dia da partida, quase um ano mais tarde, ao notar a tristeza inconsolável da filha, deu-se conta: no tempo que se passara, o amor habitara o coração de Ashira. A moça estava perdidamente apaixonada por Dawud, filho mais novo de seu primo. Ambos eram quase da mesma idade, com uma diferença não maior que dois anos a mais no rapaz.
Abba decidiu conversar com Miriam, que achou formidável a idéia do marido: fazer a proposta formal. Ashira e Dawud casaram-se em cerimônia judaica, repetindo os passos de Abba duas décadas depois.
Mas se o passado era sombrio, o presente trouxera a Ashira seu sorriso de volta, que perdera desde que saíra de onde fora seu primeiro berço neste mundo insano.
[by Bia de Barros
Nova Batata: um cara que deixou de ser poeta após uma desilusão amorosa.