quinta-feira, 17 de abril de 2008

A maçã

A batata de Flora:

História sobre uma feminista quarentona, escritora, consagrada pelas suas teorias, que acaba se apaixonando por um rapaz muito mais novo. Sua vida muda completamente.

Edith Piaf - La Vie En Rose




O resultado:


Os cabelos eram longos e lisos e contornavam mui bem a pele branca e o sorriso quase inocente. Ele tinha um sorriso bem maroto e tímido, olhava pra baixo e sorria. O que vem agora é o cúmulo do clichê, mas eu tenho que dizer: eu não podia. Eu nem sabia quem ele era, mas era agradável. Ele tinha olhos verdes e era magro. Ele era tão pequeno. Parecia mais fácil que ele coubesse em meus braços do que eu nos dele. Parecia que eu deveria pegá-lo no colo logo, ao mesmo tempo que parecia que eu deveria beijar-lhe a boca instantanemente toda a vez que o via.
E era assim mesmo. Esbarrava com ele em todas as esquinas e quase não conseguia olhar nos olhos dele. Olhava, mas tinha que desviar e o desvio era automático em direção à boca. Tinha que beijá-lo. Tinha que puxá-lo para mim e estar com ele virada do avesso. Eu me sentia tão menina perto dele.
Eu me sinto tão menina quando ele me olha, tão nua. Ele me olha como se descobrisse o mundo e eu nunca tinha visto nada assim. Eu nunca tinha sentido nada assim. Eles eram sempre menos. Pode entender? Eu sempre quis ter voz!
Desde criança, desde pequena. Eu queria fumar os cigarros que eramde homem e ganhar dinheiro pra sustentar a casa. Nunca quis ser homem, é bem verdade. Gostava do glamour de ter seios redondos e grandes que eu podia apalpar e achar bonitos no espelho. Sempre gostei dos meus mamilos rosados e de ter entrada ao invés de protuberância. E sempre gostei da sensibilidade e de todas as coisas que dizem ser femininas.
Só que eu nunca quis ser mulher de Atenas. Eu nunca quis ser subserviente e simplesmente uma mulher. Eu não queria ganhar menos, como diziam que eu ia; nem ser professora, como papai queria. Queria ser jornalista de polícia. A última repórter policial romântica, subindo o morro sem salto pra todo mundo ver que eu era casca grossa.
A minha casca só engrossa. Só engrossou. E se eu queria ter os direitos que de fato tinha, parecia óbvio que era o poder quem me oprimia. Havia certa centralização e a superioridade de homens numa sociedade patriarcal. Eu achava bonito ser mulher, mas queria mostrar que é forte ser mulher. Que mulher é inteligente, que eu sou inteligente.
E como era gostoso subverter. Mais gostoso subverter escrevendo do que queimar sutiãs. Tão gostoso se equiparar, discutir sexualidade. Dizer que sinto sim tesão e nunca achar ponto g. Eu só não entendo por que é que eu tinha essa mania de achar que pra ser superior alguém tem que ser inferior.
E eu também não entendo como ele me olha com os olhos meio cobertos pelos cabelos. Eu não entendo como os olhos dele conseguem brilhar tanto e como ele fica bonito coberto de suor. Eu não entendo como é que eu posso ir pra cama com ele, se ele poderia ser o filho que eu jamais tive.
Tive que rever teorias. Tive que subir no salto pra ficar bonita e descer do pedestal pra conseguir conversar. Tive que tomar iniciativas que jamais tive. Por que pra ele eu era a professora bonita que nem se sabia bonita.
Ele quem me disse isso. Ele disse que gostava do mistério dos meus olhos, das minhas dores e do tom da minha pele. Ele disse que era bonito o fato de eu ser ruiva. Ele custou tanto a dizer...
É engraçado o agora. Gritei um bocado, fiz farra e escrevi muita coisa contra toda a hierarquia e toda a gente. Quis mudar cultura e discutir gêneros. É engraçado que eu esteja nua, deitada no sofá enquanto ele me pinta nua, entregue, e com vinte anos a menos que ontem, quando nunca tinha beijado aquela boca e não podia cair em tentação.

Minha batata: Eu quero a história de um golpe num país inventado. Poder e cobiça. Tem que ter um tiro na história.
Tá bom assim?

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Uma metade exilada de mim.

Carlos era professor da Universidade de São Paulo,além de solteiro e quase quarentão, gostava de passar o seu tempo dando aula de Opinião pública e lendo livros de orientação esquerdista.
Não diferente de muitos militantes,seu grande sonho era contribuir pra que a política brasileira pudesse oferecer o bem comum aos que dela necessitam; era um idealista, presente na luta contra as diferenças sociais; o professor mais engajado no lugar certo,mas na hora errada.
Acontece que Carlos se apaixonou por uma aluna também libertária ao extremo; moça inteligente,no auge dos seus 22 anos e no término do curso de comunicação social. Chamava-se Anita.Os dois se encontravam escondidos na casa de Carlos; o namoro era sério,mas por baixo dos panos literalmente e subjetivamente.Parece que Anita guardava um segredo e tinha receio de contar sobre o namoro para os pais.
Em meio ao ambiente de ditadura e repressão, Carlos foi denunciado por um espião dentro da Universidade;alegaram que era subversivo e uma ameaça ao regime. Como um passe de mágica, o professor de Opinião Pública desapareceu do mapa.
Sem notícias do amado e desconfiada de sua prisão, dedicou-se totalmente ao caso de investigar o paradeiro de Carlos, revelando assim o seu segredo: Era filha de militar. -Se Carlos estiver preso,será torturado- pensava diariamente. Recorreu ao pai,mas sem confessar o amor e o caso com o professor.
O General Faria sempre foi muito violento,pra não dizer também sádico,e como desconfiado que era,achou muito estranho o pedido da filha,mas era evidente que ele sabia do professor,sabia até quantos choques Carlos recebia no pênis e nos testículos por dia. Protelou um pouco e conseguiu descobrir por umas fontes que sua filha tinha um caso bem sério com Carlos.
Agora sim seria a hora de matar o sujeito,mas pensando bem,não era o que Faria faria sendo um militar bem sádico...Pois se Carlos morresse,como militante,toda a sua dor e sofrimento não seriam uma dádiva para um ser como Faria. Então,Carlos foi exilado da noite para o dia,tudo bem escondido,bem planejado.
Pode-se afirmar que o exílio foi pior do que a morte para Carlos, justamente o grande plano e desejo do General Faria.
Mas,como a própria história brasileira conta,eis que veio a anistia,e eis que volta Carlos,que se reencontra com Anita,que o esperava e abriu mão de sua pensão vitalícia pra se casar com o militante.
E assim,com um final mais ou menos feliz,eis que vem o clímax: Anita e Carlos,após a morte do general,defecam em cima de suas cinzas e desce tudo pela privada abaixo...
E pela privada vai o Brasil e a sua política de merda que precisa ser cremada urgentemente em conjunto com a escória que move o nosso PAÍS.
Flora V.

A minha batata super quente agora é a seguinte: História sobre uma feminista quarentona,escritora,consagrada pelas suas teorias, que acaba se apaixonando por um rapaz muito mais novo. Sua vida muda completamente. Quero a trilha sonora com uma música bem legal da Edith Piaf. Boa sorte!
beijitos
Flora v.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

E eu lhes apresento...

... a nova colaboradora do Batata Quente!





O degrau que estava faltando. Flora V. é nossa caloura, tem meiguice proporcional à sua altura e beleza e fala até de Elvis no seu blog-borracha.





E aguardem, pois a batata pelando passada por Aline Dias será escrita por ela. Sim, só porque é caloura.