sábado, 22 de agosto de 2009

Meu erro

Batata de Aline Dias: Continuar a história anterior ("Um Erro"), sem muitos clichês. (Recomenda-se ler, antes dessa, a história anterior, obviamente).

E a história é...
Meu erro.



Eu não estou solteira, ficou repetindo Pedro em tom irônico enquanto ia para casa. Só ofereci um café! Depois eu que sou pretensioso, ele continuou resmungando. Chegou em casa e tomou o café sozinho, sentado na poltrona marrom da sala de estar e mudando de canal a cada dois minutos. Havia tempo não chamava alguém para tomar um café, havia tempo que não saía com qualquer pessoa. O ato de chamar Bruna foi tão espontâneo que ele realmente achou que ela fosse aceitar.

No dia seguinte, Pedro foi para a redação do jornal decidido a esquecer a história do diário e, principalmente, Bruna. Afinal, ela era comprometida e jogara isso em sua cara sem ele ter tentado absolutamente nada. Mas a sua decisão não durou mais do que a manhã, pois logo pensou na descrição que lera no diário... sua descrição. Bruna havia se interessado por ele, a princípio. Ela o tinha visto primeiro, e mesmo que não estivesse solteira, escreveu sobre ele no diário dela. E isso devia significar alguma coisa. Ela queria comer meus olhos castanhos, pensou e sorriu. Não se daria por vencido. No fim da tarde, ligou para Bruna.

– O que você ainda quer? – ela atendeu já sabendo quem era.
– Esqueci de te devolver a página do diário. Você não quer de volta?
– Pra quê? Você já publicou no jornal, todo mundo já leu. Eu não faço questão.
– Você quis comer meus olhos – Pedrou falou, seriamente.
– O qu... Mas do que é que você está falando?!? – Bruna já estava gritando ao telefone.
– Você quis comer meus olhos, desde a primeira vez. E agora que eu notei você, me diz que não está solteira. Mas, sinceramente, o que eu li naquele diário me parecia um quase término de relacionamento. E que, se você não estivesse quase terminando com esse cara, não teria reparado em mim, em meus olhos, e muito menos teria escrito sobre isso no seu diário.

Pedro calou-se depois disso e o telefone ficou mudo por algum tempo.

– Você ainda está aí? – perguntou finalmente, depois de quase um minuto.
– Estou – Bruna respondeu, dessa vez com um tom diferente na voz. Um tom que ele ainda não havia conhecido.
– Me diz alguma coisa.
– Você quer que eu diga o quê, depois disso tudo? Não consigo.
– Toma café comigo? – ele insistiu.
– Sim.
– Daqui duas horas, na cafeteria na rua atrás do sebo. – ele respondeu, sem acreditar. E desligou.

Duas horas depois ele estava sentado na mesa do canto, esperando Bruna. Ela chegou apenas cinco minutos atrasada, e dessa vez seu cabelo estava arrumado e ela sorria. Ela sentou-se de frente para Pedro, e eles fizeram os pedidos.

– Me conte sua história. Qualquer coisa sobre você.

E Bruna falou, contou tudo. Sobre o namorado que estava na Europa, sobre o amor quase no fim e sobre o resto de esperança que ela ainda tinha.

– Eu posso acabar com isso – Pedro disse, e a levou para sua casa.

Provavelmente, Pedro estava se apaixonando. Passaram o resto na noite juntos em sua casa, rindo, contando sobre suas vidas, percebendo o quanto tinham em comum. Achariam clichê se ele escrevesse uma história contando sobre isso.

Dormiram juntos. Porém, quando o despertador tocou às sete da manhã, ele estava sozinho novamente na cama, em meio aos lençóis embolados que exalavam o perfume de Bruna. Ele não esperava isso, mas não se importou. Ligaria para ela mais tarde e marcariam de se ver. Foi para o trabalho, com um sorriso estampado no rosto, como há muito tempo não fazia. Durante o expediente, recebeu um envelope, sem remetente, apenas com o nome Pedro na frente. Abriu, e havia um papel pequeno dentro. Exatamente igual à página solta do diário de Bruna. Ele leu, lentamente e com o coração acelerado:

É bom a gente acabar logo com isso. Se não isso acaba com a gente. Aqueles sorrisos que um dia foram tão freqüentes estão voltando da Europa e minhas lágrimas em breve secarão.
Não sentirei saudades de mim sem você. Nem do seu riso besta.
O resto você já sabe.


Pedro leu três vezes o que Bruna havia escrito. Logo depois, disse em voz baixa: Vadia.
Dois anos depois, publicou um livro, com o título: "Meu erro e o maldito romantismo".


Por Darshany L.

Minha batata: a história e a decisão de uma garota que namora há 5 anos, mas fará intercâmbio de 1 ano na Austrália. Trilha sonora de Alanis Morissette, em minha homenagem.

5 comentários:

Aline Dias disse...

caralho. você sempre consegue melhorar as coisas.

rootsonE disse...

haha. faz bem pro ego da gente ver um homem se dando mal de vez en quando. SOU FÃ DESSE BLOG! :D

Tatiana Maisan disse...

VOCÊ É PERFEITA, DARSH! INCRÍVEL! ARREBENTOU. ALIÁS, NÃO SÓ VOCÊ, TODA A HISTÓRIA É MUITO BOA. PARABÉNS, ALINE. PARABÉNS AS DUAS!
AMEEEEEEEEI!

Lari Bernardi disse...

Ficou demais!!

Tadinho deleee... hauhauahuaha

A próxima batata vai ficar demais, vai ter Alanis @.@

;*

bia de barros disse...

"Bitch"

O pior é pra quem tem de fazer a pindaíba da batata, cara, dá vontade de te chamar assim mesmo, sua vaca.

Ficou imbatível, amada. Se tivesse um prêmio no Batata, ele era todo seu.

besos,
*-*