segunda-feira, 28 de julho de 2008

Madalena

Flora pediu:
Quero uma história sobre um grupo de extermínio que ataca político corrupto.

Fumou um cigarro escondida. O patrão não podia ver que ela fumava, nem que estava tensa. Ela tinha que se manter calma. Tudo seria feito naquele dia mesmo. Chegariam todas as pessoas na surdina e Madalena distrairia o patrão para que ele chegasse bem tarde em casa.
Ele estava demorando a chegar e ela tinha medo que ele sentisse o cheiro dos cigarros. Se lavou mais uma vez. Botou outra bala na boca. ele devia estar ocupado com algum projeto de lei ou alguma das muitas amantes. Ela tinha ciúme de todas. Especialmente por que ela via a fatura dos cartões e de tudo. Ela sabia as coisas que ele comprava - e que não eram para ela.
Chegariam logo.
Ele entrou silencioso, mas ela se assustou. Disse boa noite, e que não devia demorar.
Mais uma bala.
Ela ajeitou os peitos no sutiã, retocou o batom e entrou na sala dele. Ofereceu café.
Ele nem prestou atenção em nada. Abriu um botão da blusa. Ele ainda não prestava atenção. Saiu da sala e ele se assustou. Madalena fingiu não ligar.
Ele foi atrás dela ver o que estava acontecendo e ela acariciou-lhe a mão. Ele achou que tinha algo errado.
- E sua esposa?
- Está bem.
- E Joanna?
- Tenho que encontrá-la depois daqui.
- E eu?
- O que tem você, Madalena?
- Achei que estivesse na cara. - E cruzou as pernas.
- Trabalho. Não quero misturar nada. - e ela se aproximou dele, acariciou seu rosto e viu-o fechar os olhos.
- E se eu quiser?
- Os jornais.
- Prometo segredo. Também sou casada.
- E seu marido?
- Não estamos bem.
E ele ficou pensando se cedia ou não àquela tentação. Escondeu-se na sua sala.
Ela estava aflita.
Eles estavam para chegar a qualquer momento.
Ele resolveu que ia embora.
Saiu da sala, boa noite Madalena e tchau. Ela pulou em cima dele e pediu que por favor não fosse.
- Vai ser só hoje. Só uma noite pra eu tirar isso da cabeça.
- Então vamos daqui.
- Não!
- Qual o problema?

E eles entraram pela porta de sopetão e armados. Eram três. Ele tentou correr. Agarraram-na e atiraram nele. 4 tiros. Dois na cabeça, dois no peito.
Madalena achava tão bonito o granito do chão com aquela tinta vermelha. Tinha classe.
- Pronto. Está deposto. - disse o cara que disparou os tiros.
- Quem é o suplente? - disse o que segurava Madalena.
- Pouco importa - o outro respondeu.
- Vai levar alguma coisa, princesa? - O homem disse, soltando a secretária.
- O cartão coorporativo e só. O cara que está lá fora faz a compra. Vocês três foram vistos. Têm que sumir. Nem quero ver quando acharem o corpo. Me levem desacordada e finjam que é sequestro. Eu tenho que me empregar em outro lugar.


E minha batata:
Sabe aquela música, domingo no parque?
Quero-a em narrativa.

Segue:
gilberto gil - domingo no parque

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Amor bandido.

Minha batata: Quero uma história sobre um grupo de extermínio que ataca político corrupto.


Aconteceu bem assim:

Tinoco não queria trabalho sério de jeito nenhum. Às vezes me dizia que teria prazer em apagar alguns sujeitos...quando éramos crianças, eu nem levava isso a sério, até porque eu também tinha vontade de matar uns filhos da puta. Acontece que ele gostava de violência mesmo, acho que até o Rambo teria medo dele.
Eu cresci e fui trabalhar na pastelaria que o meu pai montou lá mesmo, na Favela da Rocinha. O Tinoco começou a se envolver com drogas, traficantes e sequestro de turista. Ficamos um bom tempo sem conversar, mas um tempo depois ele começou a ficar poderoso lá na favela, comprou o melhor barraco, sempre tinha fumo e pó nos bolsos e a mulherada não dava moleza pra ele.
Eu amava o Tinoco, desde criança, mas nunca falava sobre isso com ele e achava que ele só gostava de mim como amiga. Acontece que um dia desses, mais precisamente numa quarta-feira à tarde, Tinoco apareceu lá na pastelaria e perguntou se eu queria ser a mulher dele. O meu pai ficou louco de raiva e quase colocou Tinoco pra correr. Foi aí que ele mostrou quem é que mandava na área e no meu coração.Levantou a arma pro meu pai e disse que quem decidia ali era eu. Claro que eu preferi ir com o Tinoco, estava cansada de dar duro na pastelaria e ser escrava em casa... eu queria servir o meu homem, ter minha casa e quem sabe ter filhos.
Tinoco me dava tudo do bom e do melhor, me tratava feito uma princesa e fodia do jeitinho que eu gostava. Mas, como nem tudo são flores, ainda mais no tráfico, Tinoco começou a ficar irritado, parece que a polícia estava dando uma dura e tiurando sossego dos traficantes. Tinoco começoua chegar emcasa tarde, algumas vezes machucado e muito nervoso.Eu não perguntava nada, servia a janta e cuidava dele.
Num sábado os viciados subiram o morro atrás de droga, o Tinoco estava com pouco pó,mas precisava vender o que tinha para os cheiradores. Infelizmente nesse dia o Tinoco acordou com muita febre, e eu suspeitei que fosse a maldita dengue. Sem poder se levantar, ainda delirando, Tinoco me implorou pra que eu levasse a droga. Eu concordei, faria qualquer coisa pro meu homem, até dar a minha própria vida.
Desci com a coca. Encontrei alguns clientes,mas fui surpreendida, era uma emboscada da polícia que na verdade procurava o Tinoco.
Fui levada pra delegacia e assumi toda a culpa. Confirmei que eu era a mandante, que eu matei dois policiais, que eu controlava a boca. O Tinoco ficou livre de todas as acusações. Eu peguei 30 anos de pena, mas me soltaram com menos por bom comportamento. Tinoco nunca me visitou e nem nunca procurou saber o que aconteceu comigo. Claro que fiquei um pouco triste, mas eu o amava tanto que assim que saí da cadeia fui atrás dele.
O vagabundo continuava na mesma, um malandro de mão cheia. Fique sabendo, no entanto, que ele tinha se engraçado com umas vadias e que ainda por cima falava coisas horríveis sobre mim.Fui atrás do desgraçado no bar. Ele estava desmaiado em cima da mesa. Peguei o seu revólver e dei dois tiros na nuca, assim ele sentia menos dor.
Eu o matei porque eu não merecia tanta ingratidão pelo o que fiz por ele, e eu sabia de alguma forma que se não o matasse, acabaria perdoando aquele coisa ruim.
Final das contas: Assumi de verdade a boca e imortalizei o meu Tinoco na favela inteira.

Flora V.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Sete Palmos

Batata da Darsh: a história de um cara que chega tarde demais.

Na primeira carta levou apenas alguns dias para responder. Paletó gris no espaldar, charuto e tocos de vela acesos, escrevia com frenesi a matéria a ser publicada no La Tribune de domingo. O envelope de papel offset sobre a cerâmica à sua frente já estava lacrado e selado, endereçado ao Brasil. (Quanto tempo ao certo levou para postá-lo não se sabe.)
Aos poucos o enfeite encheu-se de cartas Vitória-Paris, sequer abertas. O aroma de rosas que exalavam obrigou-o a guardá-las dentro de uma caixa de papelão que ainda restara da mudança no seu quarto, aos pés da cama.
Tampouco se sabe se fora a constância das linhas que lhe entediara, ou se os compromissos de um colunista de sua estirpe que o obrigavam, qual dizia de si para si, a dedicar tão pouco tempo ao que vivia tão distante de seus olhos agora.
Os olhos...
Ele sabia que aqueles olhos aos poucos perdiam a habilidade de absorver a luz do dia, e que mesmo assim insistiram-lhe nas cartas, que chegavam já com letras mui distintas da primeira vez, ele adivinhava: ela sobre a cama forrada do verde-água daquelas íris ditava à irmã ou à cunhada, muito solícitas, tudo o que se passava naquela ilha.
Eram sempre as mesmas linhas: a precisão com que descrevia o lilás do poente em Camburi ou o arensar dos cisnes na Ilha do Frade fazia-lhe crer que ela ainda voltaria a ver, que as chances de uma cirurgia bem-sucedida não se haviam esvaído de todo. Ele lhe prometera conseguir o dinheiro, e voltar tão logo pudesse custear o tratamento com a melhor equipe médica da capital paulista.
Ele a amava, e não havia dúvidas de que fosse recíproco. No entanto, sentia um vazio ao notar o tempo a passar sem que desse conta de prestar contas ao que, aos poucos, era só passado, e passara a conformar-se que tudo era pó a escorrer numa ampulheta controladora.
Quando voltou, de limousine blackglasses, pulseira e relógio Ouro 24K, made in Berna, ele vislumbrou uma última vez a colcha de seda verde-água estendida sobre a cama agora tão fria... O espelho d'água que costumava aquecê-la agora estava encoberto pelo peso das pálpebras que não mais se abririam.
O doutor explicou que a doença avançara severamente; que com a negativa unânime de que fosse possível curá-la, padeceu da forma grave do transtorno afetivo conhecido como 'depressão', agravado pela espera de consideráveis sete anos pelo retorno do amado que chorou, pela segunda e última vez na vida, guardando uma rosa rubra a sete palmos do chão.

by bia de barros

Próxima batata: história de ação, envolvendo: tráfico de drogas, amor doentio e investigações perigosas no morro do Rio.

domingo, 6 de julho de 2008

Esse cara.

Batata de Aline Dias: "Eu quero a história de envolvimento entre duas pessoas que não se gostam, nem gostariam de estar se envolvendo. E trilha sonora do Caetano!" E a história é...

... Esse cara.

Caetano Veloso - Essa Cara


Esse cara lá de longe eu já vi, ele não me quer. Ele não te quer. Na escuridão que eu mal pude perceber, o cara eu vi, quase morri, eu já fugi.
Esse cara que me ignorou, mas nem chorou, eu não chorei. Eu corri.
Mas tudo em vão, porque na razão, ele nem ligou. Ele nem quis, era impressão, e não visão.
E quando tudo parecia bem, ele lá, eu aqui, longe. Aproximou.

O fedor de cigarro se tornou intenso de repente. Expremeram os limões e já não enxergavam mais nada. A mesa amarela era tudo que se tinha à frente, e não tinha razão que controlasse qualquer instinto. Não havia emoção, nem sentimento. Fingiram se desconhecer.

Pegou.
Beijou.
(...)

No dia seguinte eu soube: foi o álcool.

Por Darshany L.

Minha batata: quero a história de um cara que chega tarde demais.