terça-feira, 19 de maio de 2009

Batata da @Alineocdias: Escrever um conto erótico com citações claras a alguma música, frases clássicas de cinema, vinho e sorrisos.

-"I want to give her everything. And I want to take everything from her..."
[Louis, from Original Sin]

Trilha Sonora: Dance With Me, by Nouvelle Vague.


A irracionalidade de Eros [Por um cinéfilo]


Sabe o que mais faz sucesso numa cena de sexo? Humilhação. Você vê isso nos filmes - em Closer e em Original Sin, então, demasiado. Anna e Bonny sentem que perdem em vontade própria quando cedem, mas ganham muito em satisfação. O paradoxo de sentir febre enquanto se treme de frio em mãos fortes. A definição de Eros é bondage. Estranho que no platonismo se queria tanto ver o outro num vôo livre... O sexo é bondage. Leva tempo para soltar as amarras da cama, após o fim da noite, o fim de tudo, que pode acabar mais cedo, inclusive.
Numa noite fria, perfeita para o culto da solidão, os depressivos sentem que estão perdidos sem companhia, mas lha buscam para perderem-se ainda mais. A cada minuto a dor cresce no martírio, e é a dor que satisfaz a um legítimo cavaleiro medieval. Ele despe a sua dama com delicadeza, cada toque suave é então potencializado pela espera da violência que virá em seguida: cada arranhão profundo nas costas, mordida nos braços, peitos e bocas, enrijece as coxas que só cedem no sopro final.

A busca tem de ser complementar. Metade goza na humilhação, metade quer controlar tudo, inclusive o futuro. Soltam as amarras no final, mas antes da satisfação total, para que possam ir embora e voltar sempre, querendo bis... Ao fim da cena, cada metade se cobre com suas vestes com vergonha, uma segue para oeste, a outra para o sol nascente.
Quem humilhou sai ostentando seu poder, sem dizer adeus, para buscar uma garrafa de vinho, que ajuda a trazer de volta o sono roubado. Toda espécie de palavra doce procede só de quem foi mais humilhado; da boca que escarrou saem apenas sorrisos silenciosos após o gozo.
O filme acaba do modo que começou: a busca unilateral pela solidão, um jeito nobre de dizer que a batalha pela satisfação sexual acabou, sem vencedores, nem perdedores. O amor Eros é contratual, momentâneo e só pode surgir de um estado passageiro de insanidade mental. As pessoas que se entregam assim durante o sexo não suportariam uma vida miserável; seus pensamentos mais ambiciosos na cama, no entanto, passam pela humilhação absoluta. São loucos, esses amantes ficcionais; não sei porque essa insistência em saber o personagem por detrás da máscara.
[Larry: There's a girl out there who calls herself Venus, what's her real name? Alice: Pluto.] - "Closer"(2004) -
O que eles querem é sexo.
Ponto final.


*by biadebarros.

Minha batata:
Algo inusitado na vida de um autor de retratos femininos (Homenagem à Fotografia, após a homenagem ao Cinema).

3 comentários:

Aline Dias disse...

foda.

Pareta disse...

as vezes sexo é bengala

bia de barros disse...

a música que tem apenas referências no texto é de uma banda alemã, e se chama Eros - sendo apenas instrumental [violino]. um doce pra quem souber o nome da banda.
;*