terça-feira, 4 de março de 2008

A Festa.

Apenas uma nota, antes de mais nada: o Batata Quente saiu no jornal, minha gente. A Gazeta de hoje, no caderno Conexão, página 04.

Eis o recheio da batata de Aline Dias: "E dessa vez eu quero um conflito. Briga forte mesmo entre duas personagens distintas de literatura clássica. Personagens de livros distintos de literatura clássica. Preferência por personagens conhecidos". E a história é...


...A Festa.

O salão estava cheio naquela noite. Rodadas das mais variadas bebidas vinham todo o tempo, erguidas em bandejas cuidadosamente equilibradas em mãos fortes e masculinas. Eram poucas as damas presentes. Metade delas tentava o máximo se comportar. A outra metade já tinha passado da cota de álcool no sangue. A música tocava em um ritmo louco, de modo a atiçar até as almas mais puras. Foi então que a mais (im)pura delas se levantou. Todos os olhares se viraram para ela, magnetizados.

"Lúcia ergueu a cabeça com orgulho satânico, e levantando-se de um salto, agarrou uma garrafa de champanha, quase cheia. Quando a pousou sobre a mesa, todo o vinho tinha-lhe passado pelos lábios, onde a espuma fervilhava ainda. [...]
Lúcia saltava sobre a mesa. Arrancando uma palma de um dos jarros de flores, trançou-a nos cabelos, coroando-se de verbena, como as virgens gregas. Depois agitando as longas tranças negras, que se enroscaram quais serpes vivas, retraiu os rins num requebro sensual, arqueou os braços [...] com o gesto, com a sensação do gozo voluptuoso que lhe estremecia o corpo, com a voz que expirava no flébil suspiro e no beijo soluçante, com a palavra trêmula que borbulhava dos lábios no delíquio do êxtase amoroso.
Deviam de ser sublimes de beleza e sensualidade esses quadros vivos, que se sucediam rápidos; porque até as mulheres aplaudiam com entusiasmo e frenesi."¹

Menos uma. Lá estava ela, "travessa, inconseqüente e às vezes engraçada; viva, curiosa e em algumas ocasiões impertinente."² Tão impertinente, que não pôde evitar os próximos acontecimentos.

– Palmas! Palmas para a grande dama da noite! Mas que piada... – ela batia as mãos cada vez mais forte, para atrair a atenção de todos os convidados. Sorria maliciosamente.
– Carolina³, por favor... – seu irmão, Filipe, tentou. Em vão.
– Deixe! Deixe que ela diga o que bem quiser – dessa vez era a voz sensual de Lúcia que reinou no salão. – Digas, qual a piada D. Carolina?
– Todos sabem que és a cortesã mais procurada daqui. Mas a vontade de fazer cena é maior, não é? – ela riu, esperando que alguém lhe acompanhasse. Estavam todos calados.

Lúcia desceu da mesa, com a raiva estampada no olhar.

– Já entendi. Tens inveja. Inveja do que sou e posso ser, enquanto a senhorita vive camuflada na sombra do irmão protetor. Inveja que todos me desejam, enquanto tens reservado apenas um homem, velho e acabado, esperando apenas por teu dote.

O sorriso desapareceu do rosto de Carolina. Ela levantou-se bruscamente da cadeira, esbarrando na taça de vinho e derrubando-o quando Filipe tentou impedir. O salão continuou em silêncio, e alguém abaixara a música. Carolina caminhou até Lúcia, em passos firmes. Aproximou-se e arrancou o arranjo improvisado de flores do cabelo de Lúcia.

– Não tens o direito de falar assim comigo.
– Tenho sim. Ofensa se responde com ofensa.

A duas estavam a apenas alguns centímetros de distância.

– Não ouse se comparar comigo, cortesã. Tens de ouvir calada, essa é a ordem natural das coisas. Com um estalar de dedos, posso acabar com essa tua fama em minutos.

Lúcia, no mesmo instante, esbofeteou Carolina. O ruído do tapa ecoou pelo salão.

– És uma criança, e nada sabes da vida ainda. Tens sorte de ser quem é, mas azar de não haver alguém para guiá-la e ensiná-la a tratar todos de igual para igual.

Carolina, ardendo de raiva, revidou o tapa de Lúcia. As duas se agarraram pelos cabelos, e caíram em cima da mesa onde minutos antes Lúcia enlouquecia à todos. Ficaram por muito tempo puxando os cabelos, dando tapas e unhadas. Ninguém se atrevia a chegar perto. De repente, cada uma rolou para um lado e ficaram deitadas, ofegantes, roxas e descabeladas. Haviam sangue e hematomas.

– Desculpa? – Carolina pediu.
– Não – Lúcia respondeu. Levantou-se, recompondo-se, e foi embora.


Darshany.


¹ Trecho e personagem do livro Lucíola, de José de Alencar.
² Trecho do livro A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo.
³ Personagem do mesmo livro acima.



Desafio as blogueiras a escreverem um texto com o tema: aborto. Elementos que deverão estar presentes: namorado arrependido e morte.

6 comentários:

Mariana Anselmo disse...

Ahh.. que lindoo!!!
cheio de conflito.. intriga..
UHUAhuahUHAUha a cara da aline!! HUAHuahUHA
=)

beeeeeeeeeeeeeeijo!

Paula Carolinny disse...

uhhhhhh que maravilha de blog, a darsh da dica e confio nela.
vi a materia dela do jornal no blog e resolvir passar por aqui.

mt bom, amei.

e o proxima tema é show, escreve quem quiser, como funciona?

beijos

Aline Dias disse...

meeniiina

surpreendeu-me mais uma vez.
fantástico.
pensava em homens brigando.

Salvador Lucas­ disse...

Muito bom, altos conflito =]

Fernanda Ferrão disse...

SENHOR :O
eu AMEI...sério a idéia de colocar os trchos que realmente existem foi muuuuito boa!
esse aqui não largo mais

beijo

Anônimo disse...

Massa tá, muito bom o livro e massa a "mixação", vi la na gazeta, vc ateh escreveu pra olhar na gazeta q fikei curioso
shaushauhsuhsauhs
flwsss