sexta-feira, 28 de março de 2008

Jane

Dona Darshany malvada propôs o desafio mais difícil ever (quero que escrevam um novo final para a personagem Alice (Natalie Portman), do filme Closer. ), mas tentei... Vá lá...


Olhou pra trás num misto de saudade e culpa. Talvez ela não devesse ter mentido o nome desde o início. Se tivesse confiado mais em si e nele e não tivesse se envolvido em tanta coisa ao mesmo tempo talvez tudo fosse diferente. Mas a verdade é que ela preferia fugir.
Cada fuga nova era uma proteção nova. Não dizer o nome talvez significasse nunca ser conhecida por completo. Tinha ouvido certa vez que a paixão se acaba quando a gente se conhece. Paixões são mantidas pelo mistério...
A idéia sempre pareceu aconchegante e interessante e Jane sempre se grudou nela como se não houvesse outra saída. O que doía, então, era que mesmo imersa em tanta paixão não tinha conseguido sequer acreditar em amor. Eram coisas diferentes e pesadas. As duas doíam e continuariam doendo pra sempre. Jane então tinha vontade de chorar e nunca mais se apegar em absolutamente nada. Tinha perdido sua única crença de paixão e mistério. Estava sozinha e sem chão. Comprou a passagem pra fugir mais uma vez. Foi embora.
Olhou pra trás num misto de saudade e culpa, não havia mais nada a fazer. Arrumou uma seringa, encheu-a de ar e injetou-a na própria veia.
Paixão sem mistério é sentir lentamente o sangue parar de correr no próprio corpo. Não havia mais corpo, não havia mais nada além de uma mala e lembranças de Jane que gostava de ser Alice.
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Quanto à batata quente que vem de mim... Quero uma história de amor de uma filha de militar da ditadura com um militante de esquerda desses que foram torturados. E quero alguma música do disco Tropicália de trilha sonora.
*sou ruuuiiiim!

sexta-feira, 14 de março de 2008

A Bela Adormecida, Bêbada e Apaixonada.

"E passo a batata pra quem estiver afim de escrever uma releitura moderna de algum conto de fadas, mas quero a Branca de Neve, A Bela Adormecida ou a Cinderella. E quero alguma música dos Beatles de trilha definitiva e aparente. *só pra mandar vcs assistirem 'Across the Universe'" Aline Dias.

Então, como eu já havia assistido Across the Universe muito antes dela, adoro histórias de princesas e Beatles é uma trilha sonora perfeita, a história é...


Jim Sturgess - All My Loving



... A Bela Adormecida, Bêbada e Apaixonada.

Aurora achou que a festa ia ser simplesmente A festa. Ia fazer 18 anos, enfim. E havia o convidado. Tão óbvio. Era tão óbvio que não importava quem mais estivesse naquele lugar naquela noite, desde que ele estivesse, e seu sorriso ia de orelha à orelha quando pensava nisso. Escolheu o melhor vestido de todas as lojas da cidade. Apenas isso. Deixou o cabelo solto e normal, nenhuma maquiagem, nem nada. Era a chance de saber se ele gostava dela como ela era. Normal. Separou as músicas mais bonitas, e já sabia qual iria tocar quando ele chegasse.

Se ele fosse. Como podia gostar de alguém por tantos meses, e esperar por essa pessoa, sem ao menos saber se ele gostava mesmo dela? Aurora às vezes se perguntava isso, mas sua desculpa para si mesma era de que valia à pena. Valia porque ela sabia que ele era o cara, e ninguém ia tirar isso de sua cabeça. Seu melhor amigo, que era apaixonado por ela, tentava abrir seus olhos, mas era em vão.

Ele não foi. Não foi, e no fundo ela sabia que isso ia acontecer. Estava na cara o tempo todo. Sentiu-se a mais burra das garotas. Decidiu que queria dormir. E não acordar tão cedo. Dormir dormir dormir, e se um dia acordasse, já teria esquecido de tudo. Ninguém viu o que ela tomou naquela noite, mas adormeceu em sua cama e assim ficou...

Dois anos se passaram. Aurora continuava dormindo. Seus amigos não sabiam mais o que fazer. Até que alguém disse que ela parecia a Bela Adormecida. Seu melhor amigo teve a idéia no mesmo instante. Ligou o som, e colocou na música que ela tinha separado para o outro cara. Inclinou-se sobre Aurora e deixou seus lábios tocarem-se levemente. Ela abriu os olhos e ele sussurrou: Close your eyes and I'll kiss you, tomorrow I'll miss you... remember I'll always be true...
– Então era você o tempo todo – ela disse, sorrindo.
– Sim, era eu. E não me importo de você ter demorado para perceber.



Darshany.



ps.: peço desculpas às blogueiras pela demora do texto, e por ele ser simples e superficial, mas nesse momento foi o máximo que consegui fazer.

E eu lanço a seguinte batata: quero que escrevam um novo final para a personagem Alice (Natalie Portman), do filme Closer.


domingo, 9 de março de 2008

Fumaça

A batata que Bellon passou (Um garoto que roubava, uma mãe religiosa. No texto, um skate, uma noite chuvosa e uma "coroa" rica.) foi tensa, pra mim. Mas segue o que minha mente insana pode fazer:



- Alguém me disse que o cigarro prolonga a sensação de prazer.
- Não gosto de cigarros.
- Grande coisa. Não gosto de chuva e você faz pior que fumar um cigarro.
- Não estou tentando me suicidar aos poucos.
- Puritano demais pra quem estava mais cedo tentando roubar uma casa.
- E vai ficar jogando isso na minha cara?
- Claro. Era a minha casa e só deu errado por que estava chovendo.
- Está chovendo. E por que você insiste em dizer que deu errado?
- Você não está na minha cama por que eu sou bonita, garoto.
- Você é bonita.
- Eu sei. Mas você só está na minha cama por que o seu plano deu errado e você tinha que dar um jeito de compensar.
- Que tara doida é essa de ficar jogando as coisas na minha cara.
- Eu te peguei, garoto.
- Não gosto da fumaça na minha cara.
- Não gosto de chuva.
- Por isso não saiu como sempre faz?
- Andou me espionando?
- Precisaria?
- Sua mãe não ia gostar de saber que você andou me espionando.
- Minha mãe não ia gostar de saber que eu estive na sua cama.
- Você é tão bonito, menino. Tão bem traçado, forte, gostoso mesmo de morder...
- E daí?
- E daí que é estranho menino bonito como você assim roubando.
- A fumaça.
- A CHUVA!!
- Não posso parar a chuva.
- Não vou parar a fumaça.
- Vou embora.
- Como?
- De skate.
- Descer a ladeira assim com chuva e ainda correr o risco de a sua mãe saber de tudo?
- Vai contar pra ela?
- Se arriscou demais vindo roubar a casa de uma amiga dela.
- A mais bonita amiga dela.
- Você não está aqui por isso. Ser bonita não implica ter algo a ser roubado.
- Vai ficar jogando na minha cara?
- A fumaça e o roubo.
- Vou embora.
- Depois que me chupar uma última vez. Aí penso se conto ou não pra sua mãe.
- Não vai contar.
- Por que?
- Ela enfarta.
- Devia ter pensado antes.
- Você não quer que ela saiba da gente.
- Eu sou uma adúltera, você um ladrão. É tudo pecado, mas você é o filho dela. O que é que vai doer mais, se o filho vem a imagem e semelhança do pai?
- Vou embora.
- Pare de ameaçar e vá.
- Sim. Vou.
- Estou vendo.
- Esse cigarro não acaba nunca?
- Já acendi outro.
- Pra que?
- Estende o prazer, moleque.


E passo a batata pra quem estiver a fim de escrever uma releitura moderna de algum conto de um conto de fadas, mas quero a Branca de Neve, A Bela Adormecida ou a Cinderella. E quero alguma música dos Beatles de trilha definitiva e aparente.
*só pra mandar vcs assistirem "Across the Universe"

Beijos e batatas passadas.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Idiota.

Desafio as blogueiras a escreverem um texto com o tema: aborto. Elementos que deverão estar presentes: namorado arrependido e morte. (Darshany)
Pois bem, queria algo melhor. Tudo o quer consegui pensar foi em uma história apenas. óbvia.





Não sabia exatamente o que queria, mas o que era óbvio a espantava. Não queria que fosse apaixonada e lutava contra isso com unhas e dentes, embora, sem sucesso, não conseguia bater a porta na cara dele. Antes aqueles curtos anos que ficaram juntos tivessem passado mais rápido ainda; quando se ama não se vê o tempo passar. As horas de espera pelo barulho do motor de sua moto vindo pegá-la e todo aquele aperto no peito de uma ansiedade que só crescia a faziam estremecer dos pés à cabeça. E estremecia o coração, e ele se apressava em bater cada vez mais forte e cada vez mais ele capotava ao ver aquele cara ali, parado na porta, esboçando um sorriso enigmático e caminhando em sua direção para beijar-te de leve os lábios. Era quase uma rotina e ela não queria mais, e queria muito mais que isso.
Uma mulher sempre apaixonada pode ser boba, mas quando surge aquele aperto no peito, sempre sabe a hora de partir. Queria partir mas não conseguia, de forma alguma. Tudo o que ela sabia é que ele não lhe dava a mesma atenção dos primeiros anos. E que ele não lhe avisava mais dos lugares que frequentava, e ela queria dominá-lo como se domina um escravo. Não fazia por prendê-lo, mas queria-o desesperadamente, a todo momento. Aparecia de surpresa e não deixava-o dormir, e ele saciava-se em seus encantos de bela jovem. Abraçava-a e arranhava-a com todo prazer que um homem pode querer, enquanto ela apenas sorria e sussurrava um "eu te amo" antes de fazê-lo gritar. E depois apertava os parafusos de sua cama, ou trocava os lençóis. E ela queria que ele a amasse. E ele queria que ela fizesse suas tarefas escolares.
Toda mulher tem um faro, toda mulher sabe o quanto dói descobrir que seu faro capta os acontecimentos à distância, e toda mulher não quer acreditar em seu faro quase animal.
Qualquer dia ela descobriu um idiota ao seu lado na cama. A idiota era ela, no fim das contas. Por que acreditara em amor, sempre amor? Não via que só existia convivência, e amor, mesmo, existiria? E depois de se surpreender com seu próprio faro de caçadora, ele disse adeus. Sem maiores explicações, apenas adeus.
Ela, entre soluços e lágrimas, queria dar a volta por cima, e conseguiria mesmo sem os telefonemas dos amigos perguntando a todo momento se estava bem. Queria contar-lhe naquele exato dia em que ele jogara tudo pro alto. Não deu tempo, ele foi mais rápido e ela calou. Uma semana antes do fim do romance ela constatara, sim, tinha algo dentro dela que ela não esperava nem queria naquele momento. E queria que ele soubesse antes mesmo de sua família, queria um apoio, um carinho, um forte. Ele é um idiota, não serviria de forte, imaginou.
Já sabia o que faria, não contou a ninguém. E fez por conta própria e sozinha, e chorando e preocupada. Morreria, mas não teria nada que lembrasse aqueles anos bem-vividos e preocupados nem em sua vida nem em seu corpo. Morreria, mas não daria esse desgosto à família, nem terminara o ensino médio ainda. Morreria, se fosse preciso. E estava decidida. E o fez e não morreu e foi dolorido e demorado, um aborto. Meu Deus, um aborto. Não era uma vida ainda, pensava. A barriga é minha, faço com ela o que eu bem entender.
E nunca disse nada a ele.
E nunca disse nada nem mesmo a si própria, nem se acusou de qualquer coisa.
Algum pouco tempo depois, um telefonema. Não atendido, propositalmente.
O que quer que fosse, ela não queria.
Uma aparição em sua casa.
O que você quer? - ela.
Queria falar com você, menina. Andei pensando em umas coisas. - ele.
Lágrimas e um abraço apertado não-correspondido, e dessa vez ela estava decidida a não deixar que as pernas tremessem. Estaria arrependido?
Estou arrependido de ter te deixado, você é minha vida. - ele.
Não se derreteria por ele nem queria que acontecesse qualquer coisa passada mais uma vez. E mudou de cidade. E nunca mais pensou em voltar pra ele. E ele foi atrás. E ela revidou. E ele perseguiu, e ela não teve como correr mais, no fundo tinha certeza que seu desejo mais forte era aquele homem. Aquele idiota. Aquele grosso.
Um dia não conseguiu mais lidar com ele, com as coisas que fez nem com sua vida sendo controlada, que absurdo. Visitou a mãe e os irmãos, voltou pra casa. E atirou-se do décimo segundo andar.



Uh, amiguinhas. Lindas e famosas e aparecendo no jornal. :)
Agora eu passo a vez: Um garoto que roubava, uma mãe religiosa. No texto, um skate, uma noite chuvosa e uma "coroa" rica.


Camila Bellon

terça-feira, 4 de março de 2008

A Festa.

Apenas uma nota, antes de mais nada: o Batata Quente saiu no jornal, minha gente. A Gazeta de hoje, no caderno Conexão, página 04.

Eis o recheio da batata de Aline Dias: "E dessa vez eu quero um conflito. Briga forte mesmo entre duas personagens distintas de literatura clássica. Personagens de livros distintos de literatura clássica. Preferência por personagens conhecidos". E a história é...


...A Festa.

O salão estava cheio naquela noite. Rodadas das mais variadas bebidas vinham todo o tempo, erguidas em bandejas cuidadosamente equilibradas em mãos fortes e masculinas. Eram poucas as damas presentes. Metade delas tentava o máximo se comportar. A outra metade já tinha passado da cota de álcool no sangue. A música tocava em um ritmo louco, de modo a atiçar até as almas mais puras. Foi então que a mais (im)pura delas se levantou. Todos os olhares se viraram para ela, magnetizados.

"Lúcia ergueu a cabeça com orgulho satânico, e levantando-se de um salto, agarrou uma garrafa de champanha, quase cheia. Quando a pousou sobre a mesa, todo o vinho tinha-lhe passado pelos lábios, onde a espuma fervilhava ainda. [...]
Lúcia saltava sobre a mesa. Arrancando uma palma de um dos jarros de flores, trançou-a nos cabelos, coroando-se de verbena, como as virgens gregas. Depois agitando as longas tranças negras, que se enroscaram quais serpes vivas, retraiu os rins num requebro sensual, arqueou os braços [...] com o gesto, com a sensação do gozo voluptuoso que lhe estremecia o corpo, com a voz que expirava no flébil suspiro e no beijo soluçante, com a palavra trêmula que borbulhava dos lábios no delíquio do êxtase amoroso.
Deviam de ser sublimes de beleza e sensualidade esses quadros vivos, que se sucediam rápidos; porque até as mulheres aplaudiam com entusiasmo e frenesi."¹

Menos uma. Lá estava ela, "travessa, inconseqüente e às vezes engraçada; viva, curiosa e em algumas ocasiões impertinente."² Tão impertinente, que não pôde evitar os próximos acontecimentos.

– Palmas! Palmas para a grande dama da noite! Mas que piada... – ela batia as mãos cada vez mais forte, para atrair a atenção de todos os convidados. Sorria maliciosamente.
– Carolina³, por favor... – seu irmão, Filipe, tentou. Em vão.
– Deixe! Deixe que ela diga o que bem quiser – dessa vez era a voz sensual de Lúcia que reinou no salão. – Digas, qual a piada D. Carolina?
– Todos sabem que és a cortesã mais procurada daqui. Mas a vontade de fazer cena é maior, não é? – ela riu, esperando que alguém lhe acompanhasse. Estavam todos calados.

Lúcia desceu da mesa, com a raiva estampada no olhar.

– Já entendi. Tens inveja. Inveja do que sou e posso ser, enquanto a senhorita vive camuflada na sombra do irmão protetor. Inveja que todos me desejam, enquanto tens reservado apenas um homem, velho e acabado, esperando apenas por teu dote.

O sorriso desapareceu do rosto de Carolina. Ela levantou-se bruscamente da cadeira, esbarrando na taça de vinho e derrubando-o quando Filipe tentou impedir. O salão continuou em silêncio, e alguém abaixara a música. Carolina caminhou até Lúcia, em passos firmes. Aproximou-se e arrancou o arranjo improvisado de flores do cabelo de Lúcia.

– Não tens o direito de falar assim comigo.
– Tenho sim. Ofensa se responde com ofensa.

A duas estavam a apenas alguns centímetros de distância.

– Não ouse se comparar comigo, cortesã. Tens de ouvir calada, essa é a ordem natural das coisas. Com um estalar de dedos, posso acabar com essa tua fama em minutos.

Lúcia, no mesmo instante, esbofeteou Carolina. O ruído do tapa ecoou pelo salão.

– És uma criança, e nada sabes da vida ainda. Tens sorte de ser quem é, mas azar de não haver alguém para guiá-la e ensiná-la a tratar todos de igual para igual.

Carolina, ardendo de raiva, revidou o tapa de Lúcia. As duas se agarraram pelos cabelos, e caíram em cima da mesa onde minutos antes Lúcia enlouquecia à todos. Ficaram por muito tempo puxando os cabelos, dando tapas e unhadas. Ninguém se atrevia a chegar perto. De repente, cada uma rolou para um lado e ficaram deitadas, ofegantes, roxas e descabeladas. Haviam sangue e hematomas.

– Desculpa? – Carolina pediu.
– Não – Lúcia respondeu. Levantou-se, recompondo-se, e foi embora.


Darshany.


¹ Trecho e personagem do livro Lucíola, de José de Alencar.
² Trecho do livro A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo.
³ Personagem do mesmo livro acima.



Desafio as blogueiras a escreverem um texto com o tema: aborto. Elementos que deverão estar presentes: namorado arrependido e morte.

domingo, 2 de março de 2008

Em cima da mesa

Eis o desafio de Bellon: a história de uma moça dos anos 80, que quer estudar fora de sua cidade mas enfrenta o preconceito dos pais. Deverá conter: Lençóis rasgados, danceteria, notas ruins e saia plissada.

Em cima da mesa

Eu sei que tinha feito escondido. O vestibular e as músicas e as bebidas. Tudo era escondido. Minha mãe achava muito legal que eu fizesse magistério e desse aula em Iúna mesmo. Escolinha de primário. Mamãe era amiga do prefeito e não me seria difícil conseguir vaga de emprego, marido bem de vida, carro e filhos catarrentos.
Acontece que Mamãe não sabia que eu gostava mesmo de dançar em cima da mesa todas as músicas do Cazuza imaginando que ele me beijava inteira, mesmo sendo gay. Ela não tinha idéia de como eu mexia a cabeça e das coisas que eu pensava. Me via estudando e não entendia as notas ruins em matemática.
Mãe! Meu negócio sempre foi poesia! Filosofia! História! Tudo de humano me tocava e me fazia querer ganhar o mundo e ir pra longe de Iúna. Mas 88 ainda não era um bom ano pra isso. Mamãe gostava de lembrar que a ditatura tinha acabado de acabar e que os discos do Cazuza que eu ouvia tinham gosto de aids, como todo lugar que fosse longe de casa.
Ela nem podia me ver saindo de saia plissada, eu tinha que trocar e botar uma calça por que ela sabia que saias eram fáceis de levantar. Aí eu ia de rosa-berrante, brincos grandes e disposição de mexer os quadris e tudo o mais ao som de rock e atrás de carros.
"Eu fui dar! Mamãe!
Eu fui dar! Mamãe!
Eu fui dar um serão extra no trabalho..."

E nessas de trabalho de verão o meu leque de desculpas pra dançar de graça em balcões de danceteria aumentava. E eu até distraía a cabeça. Esquecia que o resultado das faculdades que eu tinha tentado enquanto ia visitar a tia doente ainda não tinham saído. E saíram. E meu nome estava lá apesar da matemática.
Gelei de medo de ir pra UFES. Gelei de medo de ter que trabalhar e morar em república. Gelei de medo ao ver mamãe me trancando no quarto pra eu não sair. Daí veio a coragem de arrumar as malas, botar a saia plissada, rasgar os lençóis pra amarrar e fazer uma corda e descer a janela silenciosamente e sem nenhum medo.
Cheguei a Vitória de carona. A vida era minha, como toda a música, o álcool e a faculdade.
Gelei de medo. Respirei fundo e saí cantando Cazuza, que já não me beijava, só apoiava por que eu também tinha medo de aids.
“vida louca, vida
vida breve
já que eu não posso te levar
quero que você me leve”





Enfim, resta a mim desafiar as meninas. E dessa vez eu quero um conflito. Briga forte mesmo entre duas personagens distintas de literatura clássica. Personagens de livros distintos de literatura clássica. Preferência por personagens conhecidos.

Beijos!