domingo, 2 de março de 2008

Em cima da mesa

Eis o desafio de Bellon: a história de uma moça dos anos 80, que quer estudar fora de sua cidade mas enfrenta o preconceito dos pais. Deverá conter: Lençóis rasgados, danceteria, notas ruins e saia plissada.

Em cima da mesa

Eu sei que tinha feito escondido. O vestibular e as músicas e as bebidas. Tudo era escondido. Minha mãe achava muito legal que eu fizesse magistério e desse aula em Iúna mesmo. Escolinha de primário. Mamãe era amiga do prefeito e não me seria difícil conseguir vaga de emprego, marido bem de vida, carro e filhos catarrentos.
Acontece que Mamãe não sabia que eu gostava mesmo de dançar em cima da mesa todas as músicas do Cazuza imaginando que ele me beijava inteira, mesmo sendo gay. Ela não tinha idéia de como eu mexia a cabeça e das coisas que eu pensava. Me via estudando e não entendia as notas ruins em matemática.
Mãe! Meu negócio sempre foi poesia! Filosofia! História! Tudo de humano me tocava e me fazia querer ganhar o mundo e ir pra longe de Iúna. Mas 88 ainda não era um bom ano pra isso. Mamãe gostava de lembrar que a ditatura tinha acabado de acabar e que os discos do Cazuza que eu ouvia tinham gosto de aids, como todo lugar que fosse longe de casa.
Ela nem podia me ver saindo de saia plissada, eu tinha que trocar e botar uma calça por que ela sabia que saias eram fáceis de levantar. Aí eu ia de rosa-berrante, brincos grandes e disposição de mexer os quadris e tudo o mais ao som de rock e atrás de carros.
"Eu fui dar! Mamãe!
Eu fui dar! Mamãe!
Eu fui dar um serão extra no trabalho..."

E nessas de trabalho de verão o meu leque de desculpas pra dançar de graça em balcões de danceteria aumentava. E eu até distraía a cabeça. Esquecia que o resultado das faculdades que eu tinha tentado enquanto ia visitar a tia doente ainda não tinham saído. E saíram. E meu nome estava lá apesar da matemática.
Gelei de medo de ir pra UFES. Gelei de medo de ter que trabalhar e morar em república. Gelei de medo ao ver mamãe me trancando no quarto pra eu não sair. Daí veio a coragem de arrumar as malas, botar a saia plissada, rasgar os lençóis pra amarrar e fazer uma corda e descer a janela silenciosamente e sem nenhum medo.
Cheguei a Vitória de carona. A vida era minha, como toda a música, o álcool e a faculdade.
Gelei de medo. Respirei fundo e saí cantando Cazuza, que já não me beijava, só apoiava por que eu também tinha medo de aids.
“vida louca, vida
vida breve
já que eu não posso te levar
quero que você me leve”





Enfim, resta a mim desafiar as meninas. E dessa vez eu quero um conflito. Briga forte mesmo entre duas personagens distintas de literatura clássica. Personagens de livros distintos de literatura clássica. Preferência por personagens conhecidos.

Beijos!

8 comentários:

Darshany L. disse...

Eu juro que a conheço.

Anônimo disse...

omg!
sahusha
as vezes constrangedor mas massa
sahusahusa

Fernanda Ferrão disse...

sabe quando a gente lê alg coisa e parece que consegue criar uma cena perfeita ?
pois é...mt bom


mas o que eu mais gostei foi o desafio que tu propôs
beijo

@HumbertoMelo83 disse...

Oi, oi... Eu tava de passagem e seu texto me prendeu. Parabéns.
Mais um blog de conteúdo na net - graças ao Pai!

Bjoooo!!


^^

Anônimo disse...

shaushua
o constrangedor nao eh a batata quente, mas sim correr atrás dos carros e gritar: "Eu fui dar! Mamãe!
Eu fui dar! Mamãe!"

ahsuhasuhaushaus
flws Darsh
teh+
dia 9 probably

@HumbertoMelo83 disse...

Linda, comentei no seu outro blog, q tb é muito bom. Inclusive, vou add os seus blogs nos meus favoritos.

Bjo e fica na paz!


^^

Anônimo disse...

shaiuhsaiuhsau
o melhor é a antitese da vontade da mae e a vontade da filha

ahsuiahsiuahsuia

____________________________________

http://geradordeimprobabilidade.blogspot.com/

Cascudo Amigos Club disse...

gente, eu AMEI o blog. só não add nos meus favoritos, pq eu nem os tenho. adorei, aodrei.



e é, qd não se está sob as asas da mamãe, o sonho deixa de ser sonho. a realidade coça a sua cabeça, de mansinho... hahah boa, aline!