quarta-feira, 5 de março de 2008

Idiota.

Desafio as blogueiras a escreverem um texto com o tema: aborto. Elementos que deverão estar presentes: namorado arrependido e morte. (Darshany)
Pois bem, queria algo melhor. Tudo o quer consegui pensar foi em uma história apenas. óbvia.





Não sabia exatamente o que queria, mas o que era óbvio a espantava. Não queria que fosse apaixonada e lutava contra isso com unhas e dentes, embora, sem sucesso, não conseguia bater a porta na cara dele. Antes aqueles curtos anos que ficaram juntos tivessem passado mais rápido ainda; quando se ama não se vê o tempo passar. As horas de espera pelo barulho do motor de sua moto vindo pegá-la e todo aquele aperto no peito de uma ansiedade que só crescia a faziam estremecer dos pés à cabeça. E estremecia o coração, e ele se apressava em bater cada vez mais forte e cada vez mais ele capotava ao ver aquele cara ali, parado na porta, esboçando um sorriso enigmático e caminhando em sua direção para beijar-te de leve os lábios. Era quase uma rotina e ela não queria mais, e queria muito mais que isso.
Uma mulher sempre apaixonada pode ser boba, mas quando surge aquele aperto no peito, sempre sabe a hora de partir. Queria partir mas não conseguia, de forma alguma. Tudo o que ela sabia é que ele não lhe dava a mesma atenção dos primeiros anos. E que ele não lhe avisava mais dos lugares que frequentava, e ela queria dominá-lo como se domina um escravo. Não fazia por prendê-lo, mas queria-o desesperadamente, a todo momento. Aparecia de surpresa e não deixava-o dormir, e ele saciava-se em seus encantos de bela jovem. Abraçava-a e arranhava-a com todo prazer que um homem pode querer, enquanto ela apenas sorria e sussurrava um "eu te amo" antes de fazê-lo gritar. E depois apertava os parafusos de sua cama, ou trocava os lençóis. E ela queria que ele a amasse. E ele queria que ela fizesse suas tarefas escolares.
Toda mulher tem um faro, toda mulher sabe o quanto dói descobrir que seu faro capta os acontecimentos à distância, e toda mulher não quer acreditar em seu faro quase animal.
Qualquer dia ela descobriu um idiota ao seu lado na cama. A idiota era ela, no fim das contas. Por que acreditara em amor, sempre amor? Não via que só existia convivência, e amor, mesmo, existiria? E depois de se surpreender com seu próprio faro de caçadora, ele disse adeus. Sem maiores explicações, apenas adeus.
Ela, entre soluços e lágrimas, queria dar a volta por cima, e conseguiria mesmo sem os telefonemas dos amigos perguntando a todo momento se estava bem. Queria contar-lhe naquele exato dia em que ele jogara tudo pro alto. Não deu tempo, ele foi mais rápido e ela calou. Uma semana antes do fim do romance ela constatara, sim, tinha algo dentro dela que ela não esperava nem queria naquele momento. E queria que ele soubesse antes mesmo de sua família, queria um apoio, um carinho, um forte. Ele é um idiota, não serviria de forte, imaginou.
Já sabia o que faria, não contou a ninguém. E fez por conta própria e sozinha, e chorando e preocupada. Morreria, mas não teria nada que lembrasse aqueles anos bem-vividos e preocupados nem em sua vida nem em seu corpo. Morreria, mas não daria esse desgosto à família, nem terminara o ensino médio ainda. Morreria, se fosse preciso. E estava decidida. E o fez e não morreu e foi dolorido e demorado, um aborto. Meu Deus, um aborto. Não era uma vida ainda, pensava. A barriga é minha, faço com ela o que eu bem entender.
E nunca disse nada a ele.
E nunca disse nada nem mesmo a si própria, nem se acusou de qualquer coisa.
Algum pouco tempo depois, um telefonema. Não atendido, propositalmente.
O que quer que fosse, ela não queria.
Uma aparição em sua casa.
O que você quer? - ela.
Queria falar com você, menina. Andei pensando em umas coisas. - ele.
Lágrimas e um abraço apertado não-correspondido, e dessa vez ela estava decidida a não deixar que as pernas tremessem. Estaria arrependido?
Estou arrependido de ter te deixado, você é minha vida. - ele.
Não se derreteria por ele nem queria que acontecesse qualquer coisa passada mais uma vez. E mudou de cidade. E nunca mais pensou em voltar pra ele. E ele foi atrás. E ela revidou. E ele perseguiu, e ela não teve como correr mais, no fundo tinha certeza que seu desejo mais forte era aquele homem. Aquele idiota. Aquele grosso.
Um dia não conseguiu mais lidar com ele, com as coisas que fez nem com sua vida sendo controlada, que absurdo. Visitou a mãe e os irmãos, voltou pra casa. E atirou-se do décimo segundo andar.



Uh, amiguinhas. Lindas e famosas e aparecendo no jornal. :)
Agora eu passo a vez: Um garoto que roubava, uma mãe religiosa. No texto, um skate, uma noite chuvosa e uma "coroa" rica.


Camila Bellon

4 comentários:

Se Liga Jovem disse...

muito bom o blog ;)

Darshany L. disse...

Trágico.

Fernanda Ferrão disse...

ai...que triste!
olha não foi tãããooo óbvio assim

Anônimo disse...

shaushuasa

"Desafio as blogueiras a escreverem um texto com o tema: aborto. Elementos que deverão estar presentes: namorado arrependido e morte. (Darshany)"

mas tá massa, quase dormi aqui pra ler isso tudo
mas tá valendo